sexta-feira, 25 de abril de 2014

Sociedade mascarada




Vivemos hoje em um ambiente amplamente globalizado, cheio de cultura e informação, mas que ainda convive com diversos problemas que por vezes são ignorados pela sociedade. Engana-se quem diz que a escravidão hoje já não existe. Ela, infelizmente, ainda bate à nossa porta, mas agora o lobo aparece com a máscara da vovó. É fato que algumas mudanças ocorreram desde que a Lei Áurea foi assinada em 1888 e não há como negar que este que foi, sem dúvida, um passo fundamental para que o Estado brasileiro reconhecesse como ilegal o direito de propriedade de uma pessoa sobre a outra, mas é importante lembrar que o problema da escravidão ainda persiste, embora se apresente de forma diferente da ocorrida até o século XIX.

A nossa amada e idolatrada pátria foi o último país a fazer a abolição da escravatura e se por um lado ocorreram mudanças significativas na lei, por outro, a mentalidade de boa parte da população não parece ter dado avanços tão significativos, uma vez que depois de tanta demora a população ainda não se adaptou por inteiro a todas as mudanças ocorridas. É comum vermos nos jornais, por exemplo, grupos de pessoas que foram libertadas de cativeiros onde viviam presas tendo que trabalhar exaustiva e freneticamente. Prova disso são os mais de 36 mil trabalhadores resgatados em situação idêntica à de escravos desde 1995, segundo dados do Ministério do Trabalho. Isso mesmo, esse é o nosso novo sistema escravista: as pessoas são usadas e abusadas, com quase nenhuma remuneração, direitos e como se fossem animais irracionais, vivem apenas de seguir orientações alheias, sem voz nem defesa.

Devemos acordar e lembrar que as verdadeiras mudanças só virão, por exemplo, através de uma verdadeira e promissora educação, reforma agrária e uma melhor distribuição de verbas, pois através desses meios a nossa sociedade estará mais estruturada e pronta para enfrentar situações semelhantes. Acredito no que disse Henry Peter: “A educação faz com que as pessoas sejam [...] impossíveis de escravizar”. Com um maior investimento educacional a visão da população abrir-se-á e todos entenderão que não temos o direito de tomar posse sobre ninguém e que todos nós fomos feitos igualitariamente livres.

Portanto, vamos à luta na tentativa de viver em paz com todos. Batalhemos por um futuro melhor, mais justo, igualitário e lembremo-nos sempre de que as correntes da escravidão só prendem as mãos, porém é a mente que faz livre o escravo.


domingo, 26 de agosto de 2012

É preciso usar armas


O município de Jundiá tem belezas que podem encantar-nos, embora muitas vezes estejam escondidas dos olhos da maioria dos cidadãos. Mas é fato que a população jundiaense convive, hoje, com uma triste realidade: a falta de saneamento básico, situação que pode ser revertida, mas para isso, deve haver esforço da sociedade como um todo.
Em algumas ruas de nossa cidade, vê-se o descaso da prefeitura para com os moradores, esgotos circulam a céu aberto pelas ruas, deixando um mau cheiro insuportável em diversos locais e causando também vários malefícios à saúde da população, mas esse não é um problema que se restringe apenas ao nosso município. A população brasileira produz, em média, 8,4 bilhões de litros de esgoto por dia e desse total, apenas 36% são tratados. Quase 100 milhões de brasileiros vivem sem coleta de esgoto, que contamina os solos, corre a céu aberto e é fonte de graves doenças, responsáveis por 30% de nossa mortalidade. No Brasil, uma das maiores causas de morte associada à falta de saneamento é a diarreia. De acordo com a UNICEF, a diarreia mata quase 1.5 milhão de crianças por ano e mais da metade dos leitos de hospital no planeta é ocupado por pessoas com doenças ligadas à água contaminada.
Acredito que essa situação pode ser revertida, mas para isso a população deve se levantar e reagir com o bom uso de suas ‘armas’, lutando por uma melhoria das políticas públicas, uma vez que, a contaminação das águas, do solo e o adoecimento da população são consequências da falta de políticas efetivas de saneamento básico. A instalação de esquemas de captação de água de chuva, formas diferentes de lidar com os resíduos e aquedutos, são formas de se lidar com esse problema ambiental que nos afeta tão terrivelmente, embora seja importante que saibamos que tudo se forma em um imenso ciclo, no qual, se qualquer um dos participantes do mesmo desiste do seu papel, tudo vai por água abaixo.
Enfim, de nada adiantará se ficarmos apenas um esperando pelo outro sem cada um fazer a sua parte. Devemos, portanto, fazer como Madre Tereza de Calcutá disse e sempre levarmos essa mensagem conosco: “Sei que o meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele, o oceano seria menor”.

                                                                                                         (Alexandre Soares)

domingo, 19 de agosto de 2012

Antíteses

Pensando bem...
Não existe verdade sem mentira,

Bondade sem maldade,

Felicidade sem tristeza,

É como um clássico de futebol entre Corinthians e Palmeiras.

Não existe passado sem presente

Uma cidade sem sua gente

Uma nação sem nação

Falsidade sem traição

Uma canção sem sua inspiração
Na letra e na composição.
Não existe perguntas sem respostas

O mundo sem suas dúvidas lógicas

que de tão lógicas, não há respostas pra tantas dúvidas impostas.

A filosofia da vida é simplesmente viver.

Viver intensamente...
Esquecendo o passado
e visando o presente.

Porque entender ou deixar de entender esse mundo não importa,

o que importa é saber que nossas histórias,
terão capítulos
com tristezas e glórias.

(Lucas André)

Amnésias sociais


            Vivemos em um país totalmente capitalista que, como muitos outros, enfrenta diversos problemas sociais, a partir dos quais são levantadas inúmeras polêmicas. O desemprego no nosso país ainda é um fator que preocupa a população, que com o avanço tecnológico e com a falta de mão de obra qualificada vai ficando para trás e sendo obrigada a ceder espaço no mercado de trabalho para outros, muitas vezes pelo fato deles possuírem menos conhecimento sobre o ramo trabalhado.
            Assim, muitas pessoas se viram como podem, não sendo raro vermos nos dias atuais diversos jovens entrando no mundo da prostituição como forma de sobrevivência.
Tramita na Câmara Federal um projeto de lei para beneficiar os chamados "profissionais do sexo". Um dos deputados defensores do projeto de lei disse que a prostituição é um trabalho normal, assim como o de desportistas, modelos manequins, dentre tantos outros, uma vez que ambos fazem uso do próprio corpo como forma de subsistências. Sendo assim, os profissionais do sexo teriam direitos iguais aos outros profissionais das áreas já citadas. Os benefícios ainda se estendem ao fato de que, esses profissionais trabalhariam com carteira assinada para obterem direitos como: décimo terceiro, férias, abono do PIS, etc.
            Em meu ver, o mais viável seria tentar suprir as necessidades desses homens e mulheres lhes oferecendo outras formas de sustento, mas não incentivarmos essa prática. A degradação moral não ajuda no desenvolvimento de um país. Várias potências como Roma, Egito e a antiga Corinto caíram por causa de seus bacanais. Já os Estados Unidos são desenvolvidos, porém sabe-se que lá existe um arraigado puritanismo.
            Enquanto tantos giram em torno de preocupações tão banais, nós - e até os próprios governantes - esquecemos às vezes de alertarmos a população com campanhas, projetos, para chamarem a atenção da população quanto aos cuidados que devemos ter com nosso próprio corpo, valorizando-nos, para termos uma vida melhor. Pesquisas mostram que hoje em dia se gastam cinco vezes mais com remédios para a virilidade masculina e com próteses de silicone do que com pesquisas para a cura do Mal de Alzheimer. Diante disso, faço minhas as palavras de Dráuzio Varella: "Daqui a alguns anos, estaremos vivendo em um mundo onde teremos velhas de seios grandes e velhos do pinto duro, mas que não se lembrarão para que servem".
            Se tudo continuar como está, dentro de algum tempo caminharemos para um caminho sem volta, no qual olharemos para nossos filhos e não os reconheceremos e se os reconhecermos, seremos obrigados a dizê-los mais uma vez que tomem cuidado com o que vão ser para o resto de suas vidas, pois já será chegado o tempo em que teremos que admitir que nem toda profissão é digna.
                                                                                         
                                                                                                (Alexandre Soares)

As batalhas do soldado Nascimento


O aclamado rei do baião, se hoje estivesse vivo, estaria completando seus cem anos de existência. Admirado por grandes músicos como Gilberto Gil, Raul Seixas e Caetano Veloso, e pai do também cantor e compositor Gonzaguinha, Luiz Gonzaga cantou as dores e os amores de um povo que até então não tinha voz: todos nós, nordestinos.
Gonzagão foi um homem de muitos sucessos, polêmicas, apelidos, aventuras, paixões e soube como ninguém, falar do nosso sertão sendo o primeiro músico a assumir toda sua ‘nordestinidade’ representada pela sanfona e pelo chapéu de couro. Como afirma Tatiana Rocha: “Era a representação da alma de um povo... era a alma do nordeste cantando sua história”. Luiz Gonzaga foi uma das mais completas e inventivas figuras da música popular brasileira, fazendo jus ao título com mais de seis discos de ouro e platina ganhos e com mais de quinhentas regravações pelos maiores nomes da MPB e, inclusive, por artistas internacionais como David Byrne e Demis Roussos. A música Asa Branca, uma de suas obras mais conhecidas, mostra-nos um choro triste, num baião romântico, como nós nordestinos dizemos, arretado de bom, que embriaga a todos, sem exceção.
Esse ano, Luiz Gonzaga foi o tema do carnaval da GRES Unidos da Tijuca com o enredo “O dia em que toda a realeza desembarcou na avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão”, fazendo com que a escola ganhasse o carnaval desse respectivo ano. Gonzagão realmente era um rei, e daqueles que surgem com o mais belo dos propósitos existentes, a exaltação de um povo.
O ‘soldado Nascimento’ não batalhou apenas nas forças militares, mas, em meu ver, sua guerrilha foi muito além desses patamares. Com a linguagem típica de um sertanejo, sem muitos estudos, mas com muito amor à sua terra e com uma grande carga de religiosidade, levou a alegria das festas juninas e dos pés-de-serra, bem como a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra para o resto do país, mostrando que apesar de tudo, nós, nordestinos e também brasileiros como um todo, somos um povo forte e batalhador que não devemos jamais aceitar sermos colocados para baixo e que devemos saber dar sempre a volta por cima, valorizando-nos. Precisamos nos erguer, fazendo a nossa parte para que as mudanças aconteçam na sociedade. Temos que lançarmo-nos, ofertarmo-nos mais para fazermos a diferença como fez Luiz Gonzaga, este homem de princípios que tanto lutou pela propagação e pela aclamação do povo nordestino.
Ao cabo de 02 de agosto de 1989 o coração de Luiz Gonzaga parou de bater, o rei do baião faleceu aos 76 anos de idade, vítima de uma parada cardiorrespiratória. Ele se foi, mas as batalhas de soldado Nascimento não pararam por aí. O Gonzagão deixou seu legado para toda uma geração, legado este que à beira de seu centenário, graças ao bom Deus ainda não se foi por completo, mas é sabido que ainda há muito que ser feito.
Enfim, todas as mudanças dependem de nós, se quisermos que as coisas mudem, basta tomarmos nossas iniciativas para não permitirmos que a memória desse e de tantos outros ilustres personagens do nosso país se vá também da memória de um povo, pois isso é cultura e quando não há cultura, ocorre o que foi dito por Albert Camus: “Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro”.

                                                                                                                    (Alexandre Soares)

Águas passadas


O rio Manguaba que nasce na Serra da Teixeira e vai seguindo seu caminho até desaguar no Atlântico em Porto de Pedras, já foi muito navegado e serviu para o fluxo de mercadorias e para o comércio entre portugueses e holandeses, com passagens de ilustríssimos personagens como Dom Pedro II e Dona Leopoldina, mas isso já são águas passadas, pois ele que já matou tantas vezes a fome de parte da população de Jundiá e que foi tão importante para o crescimento da nossa cidade, hoje, se encontra poluído. E isso, traz diversas consequências para nós mesmos que usufruímos desse bem tão precioso, tanto na área comercial quanto na de lazer e embora diversas pessoas não queiram acordar para essa situação ela está aí, batendo à nossa porta, por isso escrevo esse artigo: porque vejo que a situação do nosso querido rio Manguaba não é lá das melhores.
Muitas pessoas tinham o nosso rio como meio de sobrevivência e tiravam dele o seu sustento, coisa que hoje é absolutamente impossível. Moradores antigos contam que era enorme a quantidade de peixes, crustáceos como o camarão e a lagosta e até de tartarugas, isso mesmo, não pense que você leu errado. Tartarugas! É de causar espanto, não? Elas existiam sim no rio Manguaba e em grande quantidade! Mas infelizmente a ação humana colocou tudo isso a perder.
As pessoas começaram a poluir essas águas e com isso foram matando todo tipo de vida animal existente no rio Manguaba e junto com a poluição vieram também doenças para assolar ainda mais a vida dos moradores. Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde de Jundiá desde o ano de 2003 até abril de 2012 foram registrados 9102 casos com suspeita de esquistossomose com 892 casos confirmados, sem citar ainda, as outras doenças acarretadas pela poluição das águas. Será que isso já não é o bastante?
 Já é de conhecimento de muitas pessoas que quanto mais se contamina a água dos rios, e quanto mais se pratica outras formas de poluição, caminha-se para a exaustão da vida. Como disse Cecília Bueno: “Se os cidadãos, individualmente, forem confrontados com a necessidade da manutenção da biodiversidade para a manutenção da qualidade de vida de seus descendentes, sem pensar exclusivamente em seus benefícios pessoais imediatos, os benefícios de longo prazo começarão a ser visualizadas, percebidos enfim, pelos humanos, e a conservação deixará de ser uma luta real de uma minoria e retórica da maioria para ser integrada às atividades sociais de todos como um fato normal e necessário à vida”.
Mas já é sabido que muitas pessoas (inclusive dos poderes públicos) não atentam para essa situação e agem de maneira desordeira sem ajudarem no processo contra a poluição do rio nem, ao menos, se utilizando de métodos para acabarem com a poluição já existente. Como disse, certa vez, Leonardo Boff: “Parca é a consciência coletiva que pesa sobre o nosso belo planeta. Os que poderiam conscientizar a humanidade desfrutam gaiamente a viagem em seu Titanic de ilusões. Mal sabem que podemos ir ao encontro de um iceberg ecológico que nos fará afundar celeremente”.
Dessa forma, as nossas águas vão diminuindo e os problemas aumentando gradativamente. E eu, particularmente, sem me calar em nenhum momento, só peço a Deus que não me deixe morrer sem ver a mudança dessa situação e a mente cauterizada desse povo mudada, que eu possa ver o rio Manguaba limpo outra vez, a natureza restaurada, para que pelo menos um dia, ao menos um dia, eu possa desfrutar dos primores que essa minha terra, como um todo, ainda pode me oferecer. 

                                                                                       (Alexandre Soares)

terça-feira, 6 de março de 2012

Amor e Amizade


Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira. 
Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos persistem 
dentro do seu coração.

                                                                                            (VERONICA SHOFFSTALII)

O mundo


Mundo dos pobres
Mundo dos ricos
Mundo de todos os nobres.
Nosso mundo?
Mundo em que vivemos.
Mundo onde crescemos.
Mundo de onde um dia sairemos.
Quem preserva esse mundo?
Todos os competentes.
Até os imundos.
Toda essa gente.
Será?
O planeta não está mais suportando.
Só falta pedir pra parar.
E tem muita gente apostando.
Que o mundo irar acabar,
Verdade? Mais quando? Por quê?
Como não sabemos as respostas.
Nós mesmos estamos fazendo o nosso mundo perecer.

                                                                    (Lucas André)

Refletindo


Muitas vezes não acreditei em mim. Muitas vezes a palavra coragem não entrava em meu dicionário. Covardia ou medo nem sei mais. É complicado quando se percebe que ás vezes pessoas que estão ao seu redor, te olham torto, ou te acham fraco. Viver arrodeado de hipocrisia e a falta do senso comum, o que as vezes faz parte de nossas personalidades e realidades.
Por mais que seja maluquice para algumas dessas pessoas e inclusive para mim, ainda acredito em um mundo aonde os requisitos para se tornar uma boa pessoa se refere a caráter, não a números bancários. Um mundo aonde é comum abraçar as pessoas mesmo cem conhece-las, e não parecer um maluco por isso...
Um mundo aonde o ser humano não tem medo ou raiva de outro ser humano, e sim, respeito e amor.
Enquanto por alguns segundos, paro de escrever e sonho com esse mundo fictício, 3,2,1... acordo e vejo que mundo é bem mais complicado visto dos ângulos reais. 

                                                                                                                                                                                            (Lucas André)

Universo paralelo



Eu voltei para casa pensando em coisas, como sempre. Meu dia não tinha sido de fortes emoções, a não ser o desabafo para o mesmo ombro e as palavras trocadas em outro idioma com a mesma turma. Bem, ainda havia a “revelação” da aula da noite. Certo, não uma revelação, mas um punhado de palavras bem-intencionadas que me intrigaram.
Ser envergonhado não é só uma característica, mas às vezes acho que posso considerar um defeito. Ruborizar em algumas situações ou ao se aproximar de algumas pessoas, é o fato mais inconveniente que pode acontecer comigo. Não deveria ser, mas é.
Sinto culpa por isto e tento achar razões. Ou é o meu jeito, ou é a “bolha” onde eu me acostumei a viver, ou é a rigidez, a forma como eu me cobro todos os dias. Mas pode ser que… Enfim, você sabe, pode ser que não seja nada disso e eu só precise de algumas doses de tequila e de um punhado de desprendimento.

                                                                                                                                                                               (Lucas André)

As borboletas de Deus


São tão belas... São tão livres... são como o vento que não para em um só lugar... suas cores são brilhantes como o sol que ilumina nossos dias... Trazendo a alegria de viver.
Seres tão pequenos, mais cheios de amor... pena que vive tão pouco, como tudo que é bom.. Hoje as vemos, amanhã não... Quem sabe aonde elas estão? Uma única certeza, ou estão mortas ou não!
Mais pra mim não importa, pois, elas são como os seres humanos... Hoje aqui, amanhã ali e nunca mais os vemos.
Sei que elas duram pouco tempo, mais com elas aprendi que devemos aproveitar a beleza da vida em quanto podemos... sendo uma borboleta ou um ser humano, sempre com dignidade.
Pois os amigos se vão... Nossos pais se vão... Nossos avos e filhos se vão... A cada dia agente perde pessoas que é importante pra nós Assim como perdemos as borboletas...
Então temos o dever de aproveitar cada momento ao lado desses seres criados e iluminados pelo nosso criador maior! Que não poderia ser outro além de DEUS!
                              
                                                                                                                                                                        (Lucas André)

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo, 
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!

                                                                  (Mario Quintana)

Lágrimas e testosterona

Atenção, mulheres, está demonstrado pela ciência: chorar e golpe baixo. As lágrimas femininas liberam substâncias, descobriram os cientistas, que abaixam na hora o nível de testosterona do homem que estiverem por perto, deixando o sujeito menos agressivos. Os cientistas queriam ter certeza de que isso acontece em função de alguma molécula liberada — e não, digamos, pela cara de sofrimento feminina, com sua reputação de derrubar até o mais insensível dos durões. Por isso, evitaram que os homens pudessem ver as mulheres chorando. Os cientistas molharam pequenos pedaços de papel em lágrimas de mulher e deixaram que fossem cheirados pelos homens. O contato com as lágrimas fez a concentração da testosterona deles cair quase 15%, em certo sentido deixando-os menos machões.

(Publicado no caderno Ciência, 7 de Janeiro de 2011)

Ele vivia furioso com a mulher. Por, achava ele, boas razões. Ela era relaxada com a casa, deixava faltar comida na geladeira, não cuidava bem das crianças, gastava de mais. Cada vez porém, que queria repreendê-la por urna dessas coisas, ela começava a chorar. E aí, pronto: ele simplesmente perdia o ânimo, derretia. Acabava desistindo da briga, o que o deixava furioso: afinal, se ele não chamasse a mulher à razão, quem o faria? Mais que isso, não entendia o seu próprio comportamento. Considerava-se um cara durão, detestava gente chorona.

Por que o pranto da mulher o comovia tanto? E comovia-o à distância, inclusive. Muitas vezes ela se trancava no quarto para chorar sozinha, longe dele. E mesmo assim ele se comovia de uma maneira absurda.

Foi então que leu sobre a relação entre lágrimas de mulher e a testosterona, o hormônio masculino. Foi urna verdadeira revelação. Fina! mente tinha uma explicação lógica, científica, sobre o que estava acontecendo. As lágrimas diminuíram a testosterona em seu organismo, privando-o da natural agressividade do sexo masculino, transformando o num cordeirinho.

Uma idéia lhe ocorreu: e se tomasse injeções de testosterona? Era o que o seu irmão mais velho fazia, mas por carência do hormônio.

Com ele conseguiu duas ampolas do hormônio. Seu plano era muito simples: fazer a injeção, esperar alguns dias para que o nível da substância aumentasse em seu organismo e então chamar a esposa à razão.

Decidido, foi à farmácia e pediu ao encarregado que lhe aplicasse a testosterona, mentindo que depois traria a receita. Enquanto isso era feito, ele. de repente caiu no choro,um choro tão convulso que o homem se assustou: alguma coisa estava acontecendo?

É que eu tenho medo de injeção, ele disse, entre soluços. Pediu desculpas e saiu precipitadamente. Estava voltando para casa. Para a esposa e suas lágrimas.

                                                                                                               (Moacyr Scliar)

Será o Benedito!

A primeira vez que me encontrei com Benedito, foi no dia mesmo da minha chegada na Fazenda Larga, que tirava o nome das suas enormes pastagens. O negrinho era quase só pernas, nos seus treze anos de carreiras livres pelo campo, e enquanto eu conversava com os campeiros, ficara ali, de lado, imóvel, me olhando com admiração. Achando graça nele, de repente o encarei fixamente, voltando-me para o lado em que ele se guardava do excesso de minha presença. Isso, Benedito estremeceu, ainda quis me olhar, mas não pôde agüentar a comoção. Mistura de malícia e de entusiasmo no olhar, ainda levou a mão à boca, na esperança talvez de esconder as palavras que lhe escapavam sem querer:

— O hôme da cidade, chi!...

Deu uma risada quase histérica, estalada insopitavelmente dos seus sonhos insatisfeitos, desatou a correr pelo caminho, macaco-aranha, num mexe-mexe aflito de pernas, seis, oito pernas, nem sei quantas, até desaparecer por detrás das mangueiras grossas do pomar.
***
Nos primeiros dias Benedito fugiu de mim. Só lá pelas horas da tarde, quando eu me deixava ficar na varanda da casa-grande, gozando essa tristeza sem motivo das nossas tardes paulistas, o negrinho trepava na cerca do mangueirão que defrontava o terraço, uns trinta passos além, e ficava, só pernas, me olhando sempre, decorando os meus gestos, às vezes sorrindo para mim. Uma feita, em que eu me esforçava por prender a rédea do meu cavalo numa das argolas do mangueirão com o laço tradicional, o negrinho saiu não sei de onde, me olhou nas minhas ignorâncias de praceano, e não se conteve:

— Mas será o Benedito! Não é assim, moço!

Pegou na rédea e deu o laço com uma presteza serelepe. Depois me olhou irônico e superior. Pedi para ele me ensinar o laço, fabriquei um desajeitamento muito grande, e assim principiou uma camaradagem que durou meu mês de férias.
***
Pouco aprendi com o Benedito, embora ele fosse muito sabido das coisas rurais. O que guardei mais dele foi essa curiosa exclamação, "Será o Benedito!", com que ele arrematava todas as suas surpresas diante do que eu lhe contava da cidade. Porque o negrinho não me deixava aprender com ele, ele é que aprendia comigo todas as coisas da cidade, a cidade que era a única obsessão da sua vida. Tamanho entusiasmo, tamanho ardor ele punha em devorar meus contos, que às vezes eu me surpreendia exagerando um bocado, para não dizer que mentindo. Então eu me envergonhava de mim, voltava às mais perfeitas realidades, e metia a boca na cidade, mostrava o quanto ela era ruim e devorava os homens. "Qual, Benedito, a cidade não presta, não. E depois tem a tuberculose que..."

— O que é isso?...

- É uma doença, Benedito, uma doença horrível, que vai comendo o peito da gente por dentro, a gente não pode mais respirar e morre em três tempos.

— Será o Benedito...

E ele recuava um pouco, talvez imaginando que eu fosse a própria tuberculose que o ia matar. Mas logo se esquecia da tuberculose, só alguns minutos de mutismo e melancolia, e voltava a perguntar coisas sobre os arranha-céus, os "chauffeurs" (queria ser "chauffeur"...), os cantores de rádio (queria ser cantor de rádio...), e o presidente da República (não sei se queria ser presidente da República). Em troca disso, Benedito me mostrava os dentes do seu riso extasiado, uns dentes escandalosos, grandes e perfeitos, onde as violentas nuvens de setembro se refletiam, numa brancura sem par.

Nas vésperas de minha partida, Benedito veio numa corrida e me pôs nas mãos um chumaço de papéis velhos. Eram cartões postais usados, recortes de jornais, tudo fotografias de São Paulo e do Rio, que ele colecionava. Pela sujeira e amassado em que estavam, era fácil perceber que aquelas imagens eram a única Bíblia, a exclusiva cartilha do negrinho. Então ele me pediu que o levasse comigo para a enorme cidade. Lembrei-lhe os pais, não se amolou; lembrei-lhe as brincadeiras livres da roça, não se amolou; lembrei-lhe a tuberculose, ficou muito sério. Ele que reparasse, era forte mas magrinho e a tuberculose se metia principalmente com os meninos magrinhos. Ele precisava ficar no campo, que assim a tuberculose não o mataria. Benedito pensou, pensou. Murmurou muito baixinho:

— Morrer não quero, não sinhô... Eu fico.

E seus olhos enevoados numa profunda melancolia se estenderam pelo plano aberto dos pastos, foram dizer um adeus à cidade invisível, lá longe, com seus "chauffeurs", seus cantores de rádio, e o presidente da República. Desistiu da cidade e eu parti. Uns quinze dias depois, na obrigatória carta de resposta à minha obrigatória carta de agradecimentos, o dono da fazenda me contava que Benedito tinha morrido de um coice de burro bravo que o pegara pela nuca. Não pude me conter: "Mas será o Benedito!...”.  E é o remorso comovido que me faz celebrá-lo aqui.

                                                                                          (Mário de Andrade)

O último poema

Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

                                                     (Manuel Bandeira)

Soneto

Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piedoso;
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens e inda aos deuses odioso.

Se males faz Amor, em mi se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de amor;
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.

                                                  (Luís de Camões)

Nem a rosa, nem o cravo...

As frases perdem seu sentido, as palavras perdem sua significação costumeira, como dizer das árvores e das flores, dos teus olhos e do mar, das canoas e do cais, das borboletas nas árvores, quando as crianças são assassinadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita beleza dos campos e das cidades, quando as bestas soltas no mundo ainda destroem os campos e as cidades?

Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados destruíram os trigais e os povos morrem de fome. Como falar, então, da beleza, dessa beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do teu rosto na tarde? Não posso falar dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias de todos os instantes. Porque elas estão perigando, todas elas, os trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. Contra tudo que é a beleza cotidiana do homem, o nazifascismo se levantou, monstro medieval de torpe visão, de ávido apetite assassino. Outros que falem, se quiserem, das árvores nas tardes agrestes, das rosas em coloridos variados, das flores simples e dos versos mais belos e mais tristes. Outros que falem as grandes palavras de amor para a bem-amada, outros que digam dos crepúsculos e das noites de estrelas. Não tenho palavras, não tenho frases, vejo as árvores, os pássaros e a tarde, vejo teus olhos, vejo o crepúsculo bordando a cidade. Mas sobre todos esses quadros bóiam cadáveres de crianças que os nazis mataram, ao canto dos pássaros se mesclam os gritos dos velhos torturados nos campos de concentração, nos crepúsculos se fundem madrugadas de reféns fuzilados. E, quando a paisagem lembra o campo, o que eu vejo são os trigais destruídos ao passo das bestas hitleristas, os trigais que alimentavam antes as populações livres. Sobre toda a beleza paira a sombra da escravidão. É como u'a nuvem inesperada num céu azul e límpido. Como então encontrar palavras inocentes, doces palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido destas palavras, destas frases, elas me soam como uma traição neste momento.

Mas sei todas as palavras de ódio, do ódio mais profundo e mais mortal. Eles matam crianças e essa é a sua maneira de brincar o mais inocente dos brinquedos. Eles desonram a beleza das mulheres nos leitos imundos e essa é a sua maneira mais romântica de amar. Eles torturam os homens nos campos de concentração e essa é a sua maneira mais simples de construir o mundo. Eles invadiram as pátrias, escravizaram os povos, e esse é o ideal que levam no coração de lama. Como então ficar de olhos fechados para tudo isto e falar, com as palavras de sempre, com as frases de ontem, sobre a paisagem e os pássaros, a tarde e os teus olhos? É impossível porque os monstros estão sobre o mundo soltos e vorazes, a boca escorrendo sangue, os olhos amarelos, na ambição de escravizar. Os monstros pardos, os monstros negros e os monstros verdes.

Mas eu sei todas as palavras de ódio e essas, sim, têm um significado neste momento. Houve um dia em que eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as frases mais trabalhadas. Hoje só 0 ódio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo. Só 0 ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, um ódio sem perdão, um ódio que venha do coração e que nos tome todo, que se faça dono de todas as nossas palavras, que nos impeça de ver qualquer espetáculo - desde o crepúsculo aos olhos da amada - sem que junto a ele vejamos o perigo que os cerca.

Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança. Jamais os livros diriam coisas belas, nunca mais seria escrito um verso de amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte e sobre o mar, sobre teus olhos também, se debruçaria a desonra que é o nazifascismo, se eles tivessem conseguido dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela de beleza, a mais mínima. Amanhã saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje só sei palavras de ódio, palavras de morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra aqueles que amam as trevas e a desgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos de podridão que sonharam esmagar a poesia, o amor e a liberdade!

                                                                                            (Jorge Amado)