O aclamado rei do baião, se hoje estivesse vivo, estaria
completando seus cem anos de existência. Admirado por grandes músicos como
Gilberto Gil, Raul Seixas e Caetano Veloso, e pai do também cantor e compositor
Gonzaguinha, Luiz Gonzaga cantou as dores e os amores de um povo que até então
não tinha voz: todos nós, nordestinos.
Gonzagão foi um homem de muitos sucessos, polêmicas, apelidos,
aventuras, paixões e soube como ninguém, falar do nosso sertão sendo o primeiro
músico a assumir toda sua ‘nordestinidade’ representada pela sanfona e pelo
chapéu de couro. Como afirma Tatiana Rocha: “Era a representação da alma de um
povo... era a alma do nordeste cantando sua história”. Luiz Gonzaga foi uma das mais completas e inventivas figuras da música
popular brasileira, fazendo jus ao título com mais de seis discos de ouro e
platina ganhos e com mais de quinhentas regravações pelos maiores nomes da MPB
e, inclusive, por artistas internacionais como David Byrne e Demis Roussos.
A música Asa Branca, uma de suas obras mais conhecidas, mostra-nos um choro
triste, num baião romântico, como nós nordestinos dizemos, arretado de bom, que
embriaga a todos, sem exceção.
Esse ano, Luiz Gonzaga foi o tema do carnaval da GRES Unidos da
Tijuca com o enredo “O dia em que toda a realeza desembarcou na avenida para
coroar o Rei Luiz do Sertão”, fazendo com que a escola ganhasse o carnaval
desse respectivo ano. Gonzagão realmente era um rei, e daqueles que surgem com
o mais belo dos propósitos existentes, a exaltação de um povo.
O ‘soldado Nascimento’ não batalhou apenas nas forças militares,
mas, em meu ver, sua guerrilha foi muito além desses patamares. Com a linguagem
típica de um sertanejo, sem muitos estudos, mas com muito amor à sua terra e
com uma grande carga de religiosidade, levou a alegria das festas juninas e dos
pés-de-serra, bem como a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida
terra para o resto do país, mostrando que apesar de tudo, nós, nordestinos e
também brasileiros como um todo, somos um povo forte e batalhador que não
devemos jamais aceitar sermos colocados para baixo e que devemos saber dar
sempre a volta por cima, valorizando-nos. Precisamos nos erguer, fazendo a
nossa parte para que as mudanças aconteçam na sociedade. Temos que
lançarmo-nos, ofertarmo-nos mais para fazermos a diferença como fez Luiz
Gonzaga, este homem de princípios que tanto lutou pela propagação e pela
aclamação do povo nordestino.
Ao cabo de 02 de agosto de 1989 o coração de Luiz Gonzaga parou
de bater, o rei do baião faleceu aos 76 anos de idade, vítima de uma parada
cardiorrespiratória. Ele se foi, mas as batalhas de soldado Nascimento não
pararam por aí. O Gonzagão deixou seu legado para toda uma geração, legado este
que à beira de seu centenário, graças ao bom Deus ainda não se foi por
completo, mas é sabido que ainda há muito que ser feito.
Enfim, todas as mudanças dependem de nós, se quisermos que as
coisas mudem, basta tomarmos nossas iniciativas para não permitirmos que a
memória desse e de tantos outros ilustres personagens do nosso país se vá
também da memória de um povo, pois isso é cultura e quando não há cultura,
ocorre o que foi dito por Albert Camus: “Sem a cultura, e a liberdade relativa
que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma
selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro”.
(Alexandre Soares)
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